mais um mês tá dando tchau e do frio de tremer as vértebras de ˜25º em Itabuna, desejo a você boas-vindas. 🏠
junte-se a mim e a Bruna no volume 4 de textinhos! 👇
O lençol do fantasma
Por Gabriel Goes
Eu, um andarilho etéreo
Arrasto esse lençol rasgado
Queimado pela luz do sol
Sujo, pintado pela poeira do abandono
Buscando a resposta da minha existência
Depois da vida
Um prisma de confusão
Me ilumina por dentro desse pano branco
Deixando à vista o anseio interminável que corta meu resto de alma
Ah, que saudade da tua forma infinita
Colorida como uma aurora boreal
Beleza que transcende a trama da vida
Coisa mal resolvida
Os grilhões que arrasto no além-vida
Por você eu engano a morte
Mas o tempo vai embora
Assim como o trapo que me cobre
As paredes dos corredores vazios dessa casa mal-assombrada
Sussurram pra mim
Que o além à minha forma quer se entrelaçar
Vagueio por aí
Na expectativa do fim
O lençol branco já não me cabe mais
O que é que vem depois, pai?
Pra tudo que permanece
Pode não existir ponto final
É só deixar ir
O carretel perdido
O fantasma assombrando o corredor
O luto interminável
O amor sem paralelo
Isso talvez seja parte de existir
[puf]
O dia depois da alta
Por Bruna Tenório
Esse texto não é ficção. Infelizmente não levo jeito pra criar personagens. Pois é, você está recebendo um texto sobre uma pessoa que certamente não conhece. Então pode interpretar como fantasia, se quiser. Ouvi a psicanalista me dizer que era pra viver um dia de cada vez. A minha cabeça já tinha mapeado em algumas horas todas as possibilidades ruins diante do meu diagnóstico de câncer. Tinha me casado há oito dias quando fui demitida, também logo depois do bendito diagnóstico. Consegui entender que a minha cabeça funciona assim. Como se fosse um raio-x de todas as possibilidades possíveis para eu achar que controlo alguma coisa quando acontecer. Mas dessa vez todos os meus cenários foram projetados muito longe do que aconteceu. Muito. E assim a gente confirma mesmo não ter controle de nada. Os últimos anos foram um grande open bar de porrada. Mas e para quem não foi, não é mesmo? Longe de mim querer fazer disso aqui um texto good vibes pra você acordar sorrindo no sábado. Embora eu ache válido que acorde. No meio dessa porradaria toda acontecendo, as coisas fugiram do que eu havia projetado porque foi pra muito melhor. Todos os efeitos colaterais que tive foram muito menores do que pensei que fosse sentir. Meu relatório de alta cita que “a paciente percorreu o tratamento de forma ótima”. Me recuperei de uma cirurgia que precisava utilizar um mês de meia elástica até a coxa, em São Paulo, e em janeiro – porque se fosse na minha cidade isso seria banido como ação de saúde pública pelos 45º em janeiro. Teve mais: consegui fazer com que nenhuma bactéria invadisse meu corpitcho e garanti todas as minhas sessões de quimioterapia até o final. Mas aí talvez eu entre numa parte muito prática/descritiva da coisa que – pasmem – a gente só tem alguma noção do que é quando passa de uma forma muito próxima. Resumidamente, aconteceu comigo 10% do que os médicos previam de efeitos colaterais. Não levo jeito pra auto-ajuda. Você não vai ter uma meta pra alcançar no fim desse texto e muito menos o QR-code do meu curso. Mas se tem uma coisa que eu tenho na vida é sorte e amor. Sorte de ser filha de Oxum, que descobri ainda pequena ao lado da minha mãe, porque o meu choro era sem fim. E entendi que esse choro é o que transborda das tempestades emocionais de dentro. Chorar é sentir, é se permitir ser vulnerável, é o que renova. Minha mãe dizia muito “não há mal que dure para sempre e nem bem que nunca acabe”. Eu decidi que o câncer não me definiria e que ele seria atravessado como todos os problemas que tive. E assim fomos. Fomos porque eu não fiz nada sozinha e rede de apoio é outro privilégio e também outro assunto. Mas aí o Gabriel me chama de novo pra gente fofocar de outra pauta.
Bruninha, mal posso esperar pra te ver aqui de novo. 🫶🏼
eu e você, caro leitor, temos um encontro marcado no último sábado de junho, dia 24, pontualmente às 09h09, na sua caixa de entrada. see you!